domingo, 11 de maio de 2008

Foi por medo de avião.

O avião estava caindo. Pane geral no sistema da aeronave ou coisa assim, só se sabia que a morte era certa. Ele olhou para o lado e fixou o olhar na mulher que ele amou por dezessete anos, aquela que ele conhecia desde os doze anos e por ironia do destino trabalhava na mesa ao lado da sua.

- Eu sempre te amei, sabia? – falou do nada.

- Como?

- Amar, eu, você, sempre. Desde a primeira vez que eu te vi com lápis no olho. Ou aquela vez da meia-calça preta, lembra? O teu sorriso, tudo.

- Você nunca...

Ele a olhou dando a entender que ela não precisava dizer nada. Ele virou para frente e fechou os olhos, esperando pelo impacto. E o impacto não veio. Um milagre da aeronáutica, como eles chamam. A pane fez o trem de pouso se abrir, o que permitiu ao piloto fazer o que chamaram de um pouso fenomenal e nunca antes visto - um pouso tão suave que nem a bagagem de mão se deslocou. A mídia enlouqueceu, um filme ia ser feito sobre o acontecido.

Passaram-se dois dias até que ela ligou para ele:

- Escuta, eu estava pensando no que você me disse... A gente podia sair um dia desses, sei lá. O que você acha?

- Hum, não sei não.

- Não sabe?

- Não sei.

- Eu pensei que...

- Eu ando sem tempo. Por causa da mudança.

- Mudança?

- É. Pro Peru.

- Mas eu achei que...

- Olha, eu tenho umas caixas pra empacotar ainda, a gente se fala outra hora, tá? Me manda um e-mail.

E ele desligou. Depois de dezessete anos de paixão secreta, das intermináveis horas disfarçando sentimentos, a última coisa que ele precisava era de um amor correspondido.


Cada vez que você lê um post e não comenta o Michael Jackson fica mais branco.
Cada vez que você não faz isso também.

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