sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Escuta, sobre a sua vida...

Você atende ao telefone. Aqui, você é um atraente homem solteiro de vinte e poucos anos.

- Alô?
- Alô? É da casa do Fulano de Tal? – Fulando de Tal é o seu nome.
- É.
- Fulano de Tal, vizinho do Beltrano, que trabalha naquela companhia lá?
- É, ele mesmo.
- Ele está?
- Sou eu.
- Mas você disse “ele mesmo”. Não “eu mesmo”. Você não é ele?
- Eu sou ele sim.
- Ele? Não seria “eu” então?
- Você?
- Não, você.
- Ele sou eu, eu sou ele, tanto faz. Foi jeito de falar. Todos são eu.
- Todos quem?
- Ele, oras. Fulano de tal.
- Tem mais de um?
- Que eu saiba só tem eu.
- (um ruído ao fundo e algo que lembra alguém gritando “consegui!” “É ele mesmo?” “É sim!”)
- Hã, em que ele... eu posso ajudá-lo?
- Fulano, eu não tenho muito tempo. A ligação pode ser cortada. É a Marcinha.
- Marcinha? Ligação?
- É.
- Desculpa, mas eu...
- Tudo bem. Mas no fundo você sabe. Escuta, sobre a sua vida...
- Eu sei? Sei o quê?
- Sobre nós.
- Nós?
- É. Aquela vez, que você ficou olhando as estrelas até tarde. Você sentiu alguém, dava pra ver. Era eu.
- Era você o quê?
- Que você sentiu. Olha, eu não tenho muito tempo, mas eu vou te tirar daí, por nós. Escuta, sobre a sua vida...
- Por nós? Nós quem?
- Nós, poxa. Eu e você, você e eu. Olha, lembra aquela vez que você tava comendo patê? O jeito que você passa patê no pão, com a faca inclinada 36 graus? Eu faço igual. Nosso destino é ficar juntos, eu sei disso.
- Patê, como assim? Não tem ninguém por perto quando eu passo patê no pão.
- Tem eu. Eu estou sempre vendo. Nós temos que ficar juntos.
- Como você sabe do patê, hãã...
- Marcinha.
- Marcinha. Como você sabe disso?
- As meias. A gente dobra as meias do mesmo jeito, fulano. Você entende que nosso destino é ficar juntos? Eu nunca achei alguém que dobrasse as meias do mesmo jeito que eu. A gente tem que lutar por nós. Escuta, sobre sua vida...
- Olha, eu não conheço nenhuma Marcinha.
- Claro que conhece, amor.
- Amor? Sabe o que que eu acho? Que você é uma estranha invadindo a minha privacidade, é isso que eu acho. E eu não gosto disso.
- É assim que você me agradece? Eu aqui tentando avisar, e é assim?
- Avisar? Avisar o quê?
- Mesmo depois daquela noite que você chorou no travesseiro e dava pra sentir que só eu te entendia? Só eu te entendia, fulano! Só eu! E é assim?!
- Travesseiro? Como você sabe disso? Claudinha?
- É Marcinha.
- Marcinha. Que que tem a minha vida, Marcinha?
- Esquece. Cretino.
E ela desliga.

***

Do outro lado da linha, a Marcinha está chorando no sofá depois de colocar o telefone no gancho.
- Falou com ele, docinho? Sobre ser o destino de vocês que vocês fiquem juntos?
- Não, pai.
- Mas vocês não combinavam em tudo?
- Acho que eu errei, pai.
- Tudo bem docinho.
Ele vai até ela e a abraça por um tempo. Depois de fazer uma expressão como quem não sabe se pergunta alguma coisa ou não, ele se manifesta.
- Escuta, docinho… Você não disse que a vida dele era um reality show transmitido 24 horas por dia, uma farsa, a casa dele apenas uma estação de tevê e as namoradas dele prostitutas querendo embarcar na carreira de atriz? Não era isso que importava, que seu amor soubesse da verdade?
- Tanto faz. E troca logo de canal que eu não quero mais ver essa merda.


Cada vez que você lê um post e não comenta, nós sabemos o que você fez no verão passado.
Cada vez que você não faz isso, também >D

Um comentário:

Caroline Rigon disse...

tive q lÊ duas vezes
pra entendeeee ¬¬³

ta lokoo eu sou uma coisa mesmo...
:P